10 de junho de 2012

Tudo o que você queria saber sobre Alan Scott mas não tinha a quem perguntar

Uma semana depois de o Fantástico (aquela "revista eletrônica" dominical) realizar uma das maiores cagadas de sua história, o Segundo Caderno do jornal O Globo da última sexta-feira tentou consertar o erro da matéria "engraçadinha" e mal apurada (ou intencional?) sobre o Lanterna Verde homossexual e explicou o que o Fantástico preferiu não explicar e deixar subentendido.

Vamos ao que interessa. O Lanterna Verde virou gay ou não? Não, o Lanterna Verde não virou gay. Se você levar em consideração o fato de que não existe apenas um Lanterna Verde, mas vários, milhares! De raças, cores e tamanhos diferentes, apenas um deles seria "o" gay, sem alterar a opção sexual dos outros. O Lanterna Verde que nós conhecemos, que ficou famoso recentemente com o filme, se chama Hal Jordan. É o mais famoso também nos quadrinhos, pois foi o primeiro Lanterna Verde da Terra. Hal Jordan foi criado por John Broome e Gil Kane em 1959. Toda a cronologia que conhecemos hoje veio dessa época. A Tropa dos Lanternas Verdes, os Guardiões, Safira Estrela, Sinestro e tudo mais que sabemos sobre o Lanterna Verde veio dessa época e está contido nesse universo.
Tá! Então quem é que teve a sua orientação sexual modificada afinal de contas? Pois bem, Hal Jordan e seus amigos da Tropa dos Lanternas Verdes não tem nada a ver com isso, mas o Lanterna Verde que agora é gay se chama Alan Scott e não é exatamente um dos Lanternas Verdes atuais. E porquê? Bom, coisas que só os quadrinhos e suas "infinitas crises" podem explicar.
Alan Scott foi criado em 1940 como parte de um esforço de guerra (Segunda Guerra Mundial), e é chamado, hoje, de Lanterna Verde da Era de Ouro, ou da Terra Paralela. Alan Scott foi sim, o primeiro a receber a alcunha de Lanterna Verde. Criado por Martin Nodell e Bill Finger, o Lanterna Alan Scott possuía poderes místicos. A energia que seu anel emanava era proveniente de magia, diferente do Lanterna Verde que conhecemos hoje que tem seus poderes relacionados a ficção científica. Alan Scott formava junto com outros personagens a Sociedade da Justiça (o grupo que inspirou a Liga da Justiça). Assim como todos os heróis criados nessa fase, que ficou conhecida como Era de Ouro, (Flash, Mulher Maravilha, Gavião Negro, Átomo, entre outros), todos foram reformulados no fim da década de 50. É aí que entra o nosso amigo Hal Jordan. Olha a capa de uma das revistas da Sociedade da Justiça no fim desse texto...
John Broome, Gil Kane, Carmine Infantino e mais uma dúzia de outros autores reformularam todos os personagens da Era de Ouro. O Lanterna Verde Alan Scott simplesmente sumiu. Desapareceu. A DC Comics detentora dos direitos sobre o personagem achou melhor recriar todos os personagens que havia adquirido. Então, Kane e Broome recriaram o Lanterna Verde. Lhe deram outro nome, outra história e um outro uniforme. Na verdade, apenas o nome foi aproveitado. Alan Scott era só mais um nome na história.
Bom... anos mais tarde, a DC Comics, em mais uma crise existencial, resolveu trazer todos os heróis da Era de Ouro de volta à vida (a editora comprou a All Star Comics, dona dos personagens da Era de Ouro). Colocou todos em uma Terra Paralela, uma espécie de "cópia" da Terra onde vivemos. Então, lá, ela poderia aproveitar todos os heróis que estavam no limbo dos quadrinhos sem alterar a cronologia das suas histórias na Terra "original". O problema é que para cada editora que a DC comprava, para cada grupo de novos heróis que eram introduzidos ao seu universo, uma nova Terra era criada. Ao ponto de a DC ter, mais ou menos, umas dez Terras paralelas. Veio então a Crise nas Infinitas Terras no meio da década de 80. Uma saga que pôs fim a bagunça. Ou pelo menos tentou. A editora unificou todas as Terras e todos os personagens viviam agora em um só lugar.
O que fazer então com dois Flash? Dois Lanternas Verdes? Dois Átomos? Dois Gaviões Negros? Bom, cada um dos heróis antigos ganhou uma origem diferente, uma nova origem. O Lanterna Verde Alan Scott continuava não tendo nada a ver com a Tropa dos Lanternas Verdes ou com Hal Jordan. Seus poderes continuavam baseados em magia e ele passou a ser um respeitável herói sessentão, pai de dois filhos, e que era um dos líderes da Sociedade da Justiça. Apesar de ser, originalmente, um Lanterna Verde (só no nome...), era chamado de Sentinela, ou simplesmente de Alan Scott.
Então chegamos em 2012. A DC Comics passou por mais uma reformulação (perdi as contas de quantas ela já fez) e viu a necessidade, e a oportunidade, de ter em suas fileiras alguns heróis que estivessem mais próximos do que o mundo nos apresenta de verdade. Heróis brancos, negros, índios, mulheres, lésbicas, e é claro, gays. A DC criou um ou dois personagens gays, mas ainda não tinha o impacto necessário. O ideal era aproveitar a reformulação e mudar a orientação sexual de um de seus ícones. Sem coragem de mudar seus heróis da linha de frente - Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Lanterna Verde (Hal Jordan), Ajax e Flash -, optou por modificar mais uma vez os heróis da Era de Ouro, ou da Terra Paralela. O escolhido foi Alan Scott, o Lanterna Verde original. O anúncio de que "um" Lanterna Verde, ou "o" Lanterna Verde teria sua orientação sexual modificada, já causaria barulho suficiente para ofuscar o casamento gay da concorrente. (Leia sobre isso aqui). A DC Comics criou então a revista Earth 2, onde ela colocou Alan Scott e outros heróis da Era de Ouro - e de outras Eras... - em uma outra Terra (a mesma história de mais de 40 anos atrás...), chamada Terra 2 e lá, na bendita Terra 2, o Lanterna Verde se chama Alan Scott e é gay. Hal Jordan, esse, que usa aquele símbolo famoso, que foi interpretado por Ryan Reinolds nos cinemas, e que está na Terra original, esse, é hétero.
Ficou claro agora? Ou quer assistir o Fantástico para aprender mais sobre quadrinhos?


2 comentários :

Anônimo disse...

O msm Ryan Reinolds q pode ñ voltar para fazer o 2º filme do Lanterna Verde, q pode ser um reboot(!) do personagem no cinema. Reboot do personagem que tem só um filme, fala sério...

Marcelo Bessa disse...

Excelente abordagem.
Parabéns.