21 de outubro de 2010

Quadrinista (Ano 1) - Parte final

Como eu ia dizendo quando fui abruptamente interrompido, as tirinhas do Herói - e de outros personagens, de outros artistas - estavam sendo publicadas em O Diário, mas nem todos estavam tão felizes. Os desenhistas começaram a se perguntar porque não recebiam uma pequena quantia em dinheiro. E meus editores não podiam nem imaginar que eles estavam cogitando essa possibilidade, sob pena de expulsarem todas as tirinhas das páginas do Caderno de Cultura. A responsabilidade era minha, e de certa forma me senti um pouco pressionado. Além disso, eu estava cada vez mais envolvido com a minha ascensão como repórter, e desenhar tirinhas estava cada vez mais difícil. Nesse período os personagens coadjuvantes se tornaram mais freqüentes: Papai Noel, Ursinho Pimpão, e os figurantes mexicano, árabe e um gordo de biquíni que tirei de uma revista de Sérgio Aragonés, estavam sempre aparecendo.
Como era visível a minha falta de tempo, e os roteiros estavam cada vez piores, resolvi revitalizar a tirinha de alguma forma e então matei o Herói! Isso sempre funciona e nesse caso também funcionou. Durante uns três meses usei as fotos do noticiário e coloquei balões em personalidades de Campos: políticos, jornalistas, gente da alta sociedade, todos de alguma forma lamentando a morte do Herói.
A brincadeira com as fotos deu uma sobrevida para a tirinha, mas a brincadeira não durou muito tempo, e logo o Herói se foi, dessa vez de forma definitiva. A tirinha deixou de ser publicada e mantive por algum tempo dois ou três artistas desenhando no Caderno, até que eles também perderam o tesão e as páginas do Caderno de Cultura ficaram sem as tirinhas. O horóscopo e a programação de cinema acabaram substituindo-as.
Nunca mais voltei a desenhar para o Diário - embora ainda trabalhe lá -, as tirinhas se foram, e passei a desenhar em casa, onde mantenho meus trabalhos guardados na minha gaveta. Criei um projeto de um suplemento infantil e juvenil para o jornal que não foi pra frente. Não foi aceito por não ser comercial o bastante.
O Herói foi publicado durante dois ou três anos. Hoje, em casa trabalho na série, "Os Heróis" onde junto todos os personagens que criei, além de outros coadjuvantes, em situações do dia-a-dia. Mas essa série, bem como outras que fiz na minha adolescência, estão guardadas no fundo do armário.
Vou tentar enfrentar novamente o mercado, mas ainda preciso ensaiar mais o repertório, e pretendo testar, aqui no mucufo, as novas tirinhas e os novos personagens. Se isso vai dar certo? Sinceramente não sei, mas por enquanto fico com a boa lembrança dos dois ou três anos de tirinhas do Herói. Separei algumas ao longo dessas cinco partes da minha saga como quadrinista. O material publicado, de forma oficial, é pequeno e mostra muito pouco do que posso e gostaria de fazer, tenho um farto material na minha estante, como fanzines, artigos, resenhas e tirinhas, além de toscas histórias de super-heróis. Mas esse relato mostra o quão difícil é ser quadrinista em Campos dos Goytacazes.

2 comentários :

Splanchnizomai abraçando o amanhã. disse...

É, Càssio! Mas este Herói já está mandando no Brasil, sabia? menino, você nem sabe! Este Herói é sempre ridicularizado, mas não liga não, Cássio. Todos ridicularizam os He´rois que eles sabem eternos. Mas não fica triste, não.

Eles ridicularizam estes heróis hoje, mas amanhã estão precisando deste Herói. E este Herói, como todo Herói de Verdade, não leva em conta o tempo de ignorância e abre os braços de Amor e perdoa e ajuda e leva para passear no Jardim. E neste Jardim não tem maçã envenenada, não. Tem arrependimento, tem amor, tem discernimento, tem sabedoria, tem fidelidade, tem conhecimento, tem fortaleza, tem conselho.

Este Herói tem 7 Olhos e estão prontos para tirar tudo o que é torto em um só dia, Càssio.

Este Herói te deseja tudo de bom, de Vida, de amor de alegria para você e todos os que lhe são caros.

Muito interessante você se lembrar justamente do Herói com quem o BRasil conta nesta Terra manchada de vermelho de sangue mal e marrom de uma terra ferida. Mas o Sangue de Jesus é Luz! E quando a Luz brilha, Mucufo, não há mais necessidade de buscar tanto. Tudo vem de Graça e no embalo do amor!

Cassio Peixoto disse...

Isso é quadrinhos. So quadrinhos...