Não confio em ninguém de abadá
Não é difícil encontrar. Basta esperar um pouco e logo vai aparecer alguém vestindo um abadá. De todas as cores e de todos os cantores e bandas (baianos é claro), os abadás se transformaram em uma mania. Aliás, uma mania não, uma praga!
Pior do que um show com mil abadás é ver meses, e até anos depois, os mesmos abadás desfilando pela cidade como se fossem roupas! E os seus proprietários, que pagaram por ele de 30 a 80 reais, não admitem jogar fora uma “peça” de roupa tão cara. Usam mesmo sabendo que abadá não é roupa, mas sim um convite.
Mas afinal de onde veio essa idéia estúpida? Ah!!! Da Bahia, é claro, e o resto do Brasil não se cansa de imitar o que dá certo por lá.
O abadá pra início de conversa é uma instrumento separatista. nasceu na Bahia para separar os ricos dos pobres, os que podem comprar um lugar mais perto de seu ídolo e os que não podem. O abadá nasceu na Bahia por que sair com um trio elétrico pela cidade não dá dinheiro para ninguém. Então como ganhar dinheiro no carnaval de rua? Os donos dos grupos de axé da Bahia, que não são grupos musicais, mas franquias empresariais, lançaram a moda: quem comprar uma abadá (uma camiseta decorada com as cores do grupo, do cantor ou do bloco) vai poder estourar os tímpanos bem pertinho dos ensurdecedores auto-falantes dos trios elétricos. Quem não puder comprar vai ficar assistindo bem de longe, no que eles chamaram de “pipoca”. Ficam pulando longe do trio, não vão poder “ostentar” um abadá caríssimo mas se divertem do mesmo jeito, ou até mais, por que afinal a música não vai atrapalhar tanto.
Gilberto Gil foi o primeiro a se levantar contra os abadás e no seu trio, o Expresso 222, que sai todos os anos no Carnaval baiano, não tem abadás e nem corda separando os que têm e os que não têm dinheiro. Todo mundo pula, todo mundo se diverte.
Fora da Bahia os espetáculos de axé, ganharam os seus abadás. Não há necessidade, por que os shows geralmente acontecem em palcos ou em trios que ficam parados, mas como a sucursal tem que imitar a matriz, 90% dos shows de bandas e grupos de axés têm os seus abadás. E na primeira fila, pertinho do palco, na área vip, ficam os pitboys bêbados e as suas patricinhas ostentando os seus abadás. Longe do palco, onde os pitplayboys jogam as suas latinhas de cerveja vazias, ficam os que tem pouca grana.
Mas o show vai acabar e depois o que fazer com o abadá? Uma peça de roupa, uma camiseta, geralmente ultra-mega-colorida, de gosto duvidoso, com o nome do grupo ou cantor de axé que custou os “olhos da cara” não pode ser descartada, virar pano de chão, lustrador de móveis ou pano para limpar carros.
Um objeto tão caro tem que ser ostentado por dois ou três anos até que a qualidade do tecido, que geralmente é duvidosa, mostre sua cara. Andar de abadá é sinônimo de status, era como andar com a camisa do primeiro Rock in Rio onde estava escrito “Eu Fui” (a comparação é esdrúxula, desculpe), mas parece ser bonito freqüentar as aulas na faculdade com a camisa do show da Ivete Sangalo ou com a camiseta rosa do show do Babado Novo.
Não confio em ninguém de abadá, pois ou o indivíduo não tem outra roupa para vestir, ou tem péssimo gosto para camisetas, ou estava bêbado demais para saber o que estava usando ao sair de casa. Utilizar isso durante um show... vá lá... afinal tá quase todo mundo bêbado mesmo... e todo mundo usa a mesma coisa... agora, guardar um abadá na gaveta e colocá-lo ao lado daquela camisa que sua mãe te deu no Natal... aí já é demais. Está na hora de trocar o pano de chão.
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