Mereço uma surra por ter levado tanto tempo para ler Retalhos de Craig Thompson. Foi uma das poucas coisas que a 7ª Bienal de Campos me deu. Como eu moro na roça, e aqui não contamos com livrarias especializadas em quadrinhos (temos a livraria mais antiga do Brasil, mas o que menos se vê nela são livros), a gente acaba deixando que obras desse nível fiquem no final da nossa lista de prioridades. Um erro que não pretendo mais cometer.
Infelizmente, ou felizmente, me sinto cada vez mais distante das leituras de super-heróis. Embora esse tenha sido o meu berço, minha raíz, algumas coisas não me chamam mais atenção e os quadrinhos adultos, ou os que não têm absolutamente nada de fantástico e de heróico, estão me cativando cada vez mais. Talvez seja a idade. Ou não.
Retalhos do americano Craig Thompson me deixou assim: pensativo. Não será um divisor de águas na minha vida, mas certamente é uma obra da qual me lembrarei para sempre. Ler algo desse nível, desse quilate, depois de reler Hulk Contra o Mundo e as revistas mensais da DC Comics, renova minha fé na nona arte e nos quadrinhos como ferramenta de comunicação, de cultura, e também de entretenimento.
Retalhos foi lançada em 2009. Na época era cara demais para o meu orçamento e acabou caindo para o fim da minha lista de prioridades. Me arrependo de não ter comprado antes. Hoje, descobri Retalhos, quase por acaso, quando comprava Monstros, de Gustavo Duarte e um enorme encadernado de Will Eisner. Assim que cheguei em casa abri o livro e devorei as 600 páginas em pouco mais de duas horas. Fazia tempo que eu não via uma história em quadrinhos sendo tratada com tanto carinho e tanto esmero.
Thompson ganhou o HQ Mix em 2009 por essa obra. Só isso já seria um bom motivo para eu comprar essa obra. Mas não comprei.
Em Retalhos, Craig Thompson conta a história de sua infância, juventude e vai até o início de sua vida adulta. Ele descreve seus questionamentos com a religião, o relacionamento com os pais e o irmão, e o grande amor de sua juventude. A descoberta do amor e seu apego a religião é um dos pontos altos da obra. Eu diria que a narrativa é perfeita e é impossível que não se apaixonem pela leitura logo nas primeiras páginas.
Três pontos de Retalhos são inesquecíveis e os desenhos são de uma sensibilidade incrível: O primeiro encontro entre Thompson e a sua musa na juventude; a primeira noite de amor do casal; e quando sua musa, mesmo sem aparecer, apaga de sua vida o último vestígio que havia entre eles. As aventuras com seu irmão mais novo, com quem dividiu a cama durante toda a infância, também são singelas e de uma pureza indescritível. Impossível não se lembrar da própria infância (principalmente se você também tem um irmão mais novo). Confesso que as histórias sobre a cama que se transformava a em um barco, em um mar revolto, me deixaram com um aperto no coração. Afinal, quem nunca imginou na infância que sua cama era um navio?
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