A Bienal do Livro de Campos acontece de dois em dois
anos (por isso é uma bienal biduzão!) e não preciso dizer que todos esperam
pelo evento ansiosamente. Há os que esperam por livros infantis, os que esperam por
livros de auto-ajuda, os que aguardam escritores famosos, os que esperam lançamentos
de obras inéditas, os que aguardam mesas de debates com escritores e jornalistas... enfim, todos aguardam pela Bienal de Campos. Pois é. Mas existe um grupo em Campos
que também aguarda a Bienal e em quase todas as edições fica frustrado ao ver a
programação. São os que aguardam e esperam ansiosamente por pelo menos um autor
de quadrinhos. Geralmente, esse grupo é ignorado. E para a Bienal desse ano,
aconteceu de novo. A 7ª Bienal do Livro de Campos não trouxe nenhum autor de quadrinhos.
Nenhuma obra será debatida, nenhuma revista será lançada, nenhum livro será discutido.
Nada. Nenhum quadrinista virá para a 7ª Bienal.
Eu já deveria estar acostumado
com isso, mas não aprendo a lição. Afinal, em sete edições da Bienal de Campos,
apenas em duas delas os leitores de quadrinhos foram contemplados com uma mesa
de debates e a apresentação de algum autor. No ano passado Fábio Moon e Gabriel
Bá foram os autores que representaram os quadrinhos por aqui. Em uma mesa de debates
onde eu fui convidado para a mediação. Besteira, se não fosse convidado estaria
lá do mesmo jeito e participando com o mesmo entusiasmo. A
primeira vez que se lembraram de incluir alguma coisa sobre quadrinhos na
Bienal de Campos foi na sua quinta edição, quando o cartunista e quadrinista
Arnaldo Branco esteve aqui na Planície Goytacá falando do seu Capitão Presença, em um
evento que ganhou pouco destaque da mídia.
Vejam bem: em todas as outras
cinco edições nenhum autor de quadrinhos foi convidado. Não sei como as pessoas
montam essas programações, não sei que critério é utilizado, e nem o que
pretendem com uma ou outra atração convidada. O que sei é que impossível não se
lembrar de uma vertente da literatura que em Campos deve ter no mínimo uns
cinco mil leitores. Aliás, se tivesse apenas mil leitores de quadrinhos em
Campos, ou apenas 100 leitores, trazer um autor de quadrinhos já seria válido.
Em meio a sambistas, cantores,
atores, jornalistas, comentaristas esportivos, músicos, rappers, humoristas e atores,
é incrível como não tenham encontrado espaço para pelo menos um autor
especializado em quadrinhos. Aí você vai dizer: “Mas tem o Ziraldo!” É, tem o Ziraldo,
mas o moço apesar de ser desenhista, cartunista e criador de personagens, não
trabalha com quadrinhos. Ziraldo é autor de livros infantis, ilustrador e
escritor. Achar que Ziraldo é quadrinista é uma
ignorância comum a quem não é especialista. É aceitável quando se trata do
cidadão comum, mas é inexplicável que alguém que organiza uma Bienal não
entenda o que é - ou o que faz - um profissional de quadrinhos.
O problema com os quadrinhos não é
um problema de um ou outro organizador, é um problema cultural. Para a maioria da sociedade os
quadrinhos são uma arte menor, uma vertente sem importância da literatura que serve apenas
para entretenimento infantil. A mídia que talvez mais sofra com esse descaso e com o
preconceito são as histórias em quadrinhos. Isso é histórico, mas como estamos
sempre nos inspirando em outras cidades, era de se esperar que ao menos dessa
vez a Bienal de Campos nos surpreendesse e trouxesse um autor de quadrinhos. Afinal,
na Bienal de São Paulo e do Rio de Janeiro não apenas um, mas vários autores de
quadrinhos são convidados para debates e lançamentos de suas obras.
Olhando atentamente a programação
da 7ª Bienal de Campos e de todas as outras, encontramos uma
diversidade enorme de autores, escritores e artistas. Aliás, centenas de artistas.
Alguns que nunca escrevem uma linha sequer em nenhum livro, outros que compareceram
apenas para uma palestra, uma mesa de debates ou estavam integrados em algum
tema. O que é perfeitamente aceitável. Mas também é possível encontrar uma
quantidade enorme de artistas que se apresentaram apenas para “chamar o público” para o evento,
o entretenimento necessário após uma palestra chata de algum escritor ou autor.
Nessa edição, observando a
programação esbarrei em dois temas: “Ficção Nacional Contemporânea: as novas
vozes nacionais da produção literária” e “Existem Extraterrestres: historias de
ficção científica”. Então, você conhece alguma vertente da literatura que trate melhor desses dois temas do que os quadrinhos? Pois é... é mais ou menos por aí...
Li certa vez em um blog - ou site - que não lembro o nome, algo mais ou menos assim: os profissionais de quadrinhos vão passar o resto da
vida tentando explicar aos não-iniciados algo que é óbvio no EUA, Inglaterra, Japão, França, Portugal, Argentina e demais países cujo povo lê quadrinhos
como lê qualquer outro tipo de literatura: Quadrinhos não é leitura exclusiva
para crianças. Existem quadrinhos de todo tipo e para todo tipo de
público, assim como o cinema, teatro, música e qualquer outra mídia. Esse pode
ser (eu disse: pode ser!) um dos motivos que levaram os organizadores a se contentarem com a
participação de Ziraldo na Bienal de Campos. Afinal, só o Ziraldo basta, as crianças já se dão
por satisfeitas.
15 de novembro de 2012
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