26 de maio de 2012

O herói gay da DC Comics

Na mesma semana em que a Marvel Comics promove um casamento homossexual em suas fileiras, levando para o altar um de seus heróis, o mutante canadense Estrela Polar, A DC Comics resolve entrar na briga. A editora anunciou que um de seus heróis vai se revelar gay nos próximos dias. Ou quer mostrar que é politicamente correta e ganhar a simpatia de mais um filão de leitores ou é só marketing.

Como todo mundo já sabe a DC Comics passa por uma reformulação. Pela terceira vez na sua história vai começar do zero as suas revistas e revisitar todos os seus personagens. Isso já foi feito duas vezes, mas nunca de uma forma tão avassaladora como agora. Ícones como o Superman e Batman tiveram suas origens reformuladas, suas histórias serão recontadas, e isso permite até que um dos antigos heróis da editora volte agora como um personagem homossexual.
Eu já havia falado de heróis gays aqui no mucufo. Falei do Estrela Polar e de outros personagens que seriam introduzidos nesse novo universo. Mas essa é uma situação nova. Dessa vez, o que eles prometem, é que um herói conhecido, que ainda não apareceu no reboot da DC vai voltar como homossexual. Olha, não se enganem, o mercado dos quadrinhos é tão voraz quanto qualquer outro mercado, e a guerra agora é saber quem tem mais heróis gays em suas fileiras. Na década de 70 isso aconteceu com os heróis negros e na década de 60 com as mulheres. A ideia é remar a favor da maré, mas sem nenhum comprometimento real com a causa.
A DC aproveita, da mesma forma que a Marvel, o crescimento do ativismo contra o preconceito contra os gays, e ainda vai de carona, descaradamente, no pronunciamento de Barack Obama, que afirmou ser a favor do casamento homossexual.
É bem verdade que a Marvel sempre esteve à frente do seu tempo, e a DC sempre foi muito mais conservadora. A Marvel sempre ousou mais que a sua concorrente e sempre deu os primeiros passos em direção às polêmicas. A DC sempre seguiu o rastro da pólvora. Mas, em alguns aspectos e situações a DC saiu na frente. Manto Negro, (na ilustração menor) por exemplo, filho do primeiro Lanterna Verde, Allan Scott, já havia se declarado homossexual. A nova Batwoman (na ilustração maior aí do lado) também já fez isso. Sem falar nas incursões da editora no universo das drogas - com Ricardito, Arqueiro Verde e Lanterna Verde - e com a AIDS, quando usou uma pupila do Arqueiro Verde para debater o tema.
O problema, assim como a Marvel, é que tudo é bastante conveniente para a DC. O momento é propício, e o que deveria ser natural, acaba parecendo só mais uma jogada de marketing. Uma revista que pode vender muito, mas se não vender será cancelada, e o personagem pode até voltar a ser hétero. Duvidam?
O que a DC queria ela conseguiu: todos estão se perguntando quem é o herói que se tornará gay daqui pra frente. Até agora dezenas de nomes foram cogitados, desde o "todo poderoso" Batman até o inexpressivo Homem-Gato. O nome mais forte até agora é justamente o do primeiro Lanterna Verde, Allan Scott, pai do Manto Negro que era (ou é) gay.
Em algumas semanas o novo gay do universo DC vai aparecer. O que me preocupa não é a orientação sexual dele, mas como ele será tratado pela editora no dia-a-dia além da repercussão da transformação de um herói, conhecido do grande público, em um herói gay.
Diferente do Estrela Polar, que é um integrante da Tropa Alfa e pode ser descartado se não vender bem, esse é um herói conhecido, e se a revista não vender bem, corre o risco de ganhar outro reboot. Pode morrer, ou até virar hétero. Não duvidem. A DC e a Marvel não são mais as mesmas editoras da década de 60. Contar histórias fantásticas e batalhas intergalácticas não é o suficiente. Vender é o que interessa e tratar temas polêmicos, nos últimos anos, nunca foi o forte dessas duas editoras.
A Marvel e a DC Comics introduziram personagens importantes na história dos quadrinhos, foram cruciais para o entendimento e o engajamento em algumas causas nobres e necessárias. Mas essas manifestações eram sempre motivadas por autores que acreditavam no personagem que estavam criando e que queriam fazer dele um motivador. Dessa vez, a decisão de tornar alguém gay, ou de realizar um casamento homossexual, é feita em uma sala de reuniões, cheia de executivos, com gente fazendo contas, apresentando gráficos e muito pouco preocupados com a essencia do personagem. Isso, e só isso é o que me preocupa.

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