28 de julho de 2008

Ledger é melhor que Nicholson


Não sou crítico de cinema. Não estudei para isso. Vou ao cinema desde a minha infância. O Cine Goytacá era o meu quintal. Assistia a tudo que podia e que não podia. Não sou estudioso da sétima arte, me atrevo a falar mal ou bem de alguns filmes, mas não vou além disso. Porém, me atrevo a falar sobre quadrinhos, porque disso eu entendo. Assim como entendo de filmes sobre quadrinhos, desde que vi as adaptações de Flash Gordon, Superman e Homem-Aranha em 1978.
Vejo as atuais adaptações dos quadrinhos para o cinema com um misto de orgulho e egoísmo, como se somente eu (e alguns poucos amantes da nona arte) tivessem o direito de assistir aos filmes, afinal acompanhamos esses personagens desde o seu nascimento nos quadrinhos. Diferente de críticos que não conhecem quadrinhos e trataram o filme “Batman, O Cavaleiro das Trevas” de forma, no mínimo, equivocada. Foi o caso da crítica que sai na Folha da Manhã do sr. Edgar Vianna. Eu entendi a proposta de Christopher Nolan, o Sr. Edgar não. O novo filme da franquia do Batman é uma das melhores adaptações dos quadrinhos de todos os tempos, mas Edgar não viu isso, por que não conhece quadrinhos.
Na última semana, um amigo me ligou e perguntou se eu já havia visto o filme. Eu disse que sim, e que valia a pena pagar R$ 12,00 para ver Batman. Ele me ligou por que estava com medo de se decepcionar depois de ter lido a crítica do Sr. Edgar. Ou ele não viu o filme, ou nunca leu quadrinhos na vida, aliás, Depois que li a crítica cheguei à conclusão de que ele nunca leu quadrinhos.
Cheio de informações equivocadas, a crítica só serviu para confundir. Pra começar Batman nunca foi alegre e popular. No início de sua carreira era cruel, atirava primeiro e perguntava depois. Espancava maridos adúlteros e atirava bandidos pela janela. Nasceu depois do Super-Homem, Fantasma, Mandrake e Capitão Marvel. Nunca pertenceu a mesma “geração de heróis”. Foi criado para ser diferente dessa geração. Nunca se aproximou do Fantasma (por exemplo), que tem uma história muito diferente.
A crítica acerta ao falar dos heróis da Marvel, que realmente modificaram o gênero na década de 60, mas a essa altura o Batman que conhecemos hoje já havia sofrido diversas modificações. A chagada do Robin e de outros personagens já haviam modificado o Homem-Morcego e já tinham tornado o herói mais popular e “colorido”. O famigerado seriado da década de 60 foi um dois responsáveis por popularizar o Batman e dar a ele esse lado “alegre”. O rechonchudo Adam West foi o que de pior poderia acontecer.
Batman, voltou a ser sombrio, mas diferente do que disse a crítica, seu caráter é de uma integridade de aço, é mais sombrio do que nunca e o Robin não sumiu, muito pelo contrário, continua sendo um dos seus parceiros mais fiéis. Sua alegria não "desvaneceu", porque ele nunca foi alegre. Diferente do que imortalizou o seriado sessentista e os desenhos dos Super-Amigos, o seu cinto de utilidades (e não cinto de segurança) nunca o protegeu de nada. O cinto foi uma invenção da televisão que nunca teve destaque nos quadrinhos.
Batman, nunca esteve tão próximo das revistas em quadrinhos como agora, o herói foi retratado em seus dois últimos filmes de forma idêntica a dos seus dias atuais. É claro, que algumas adaptações foram feitas, mas nada que comprometa as suas origens nos quadrinhos. Batman é o que Christopher Nolan captou da atmosfera dos quadrinhos; hostil, solitário e violento, assim foram os seus primeiros dias e assim é até hoje. O homem que não sorri, que não faz piadas, e que segundo o Superman, é o “homem mais perigoso da Terra”.
No segundo filme Nolan acertou de novo, principalmente com o vilão. Não poderia haver um Coringa melhor e Heath Ledger acertou em cheio. Esse é o Coringa que habita os quadrinhos e não os palhaços caricatos que o precederam. Jack Nicholson, embora melhor ator que Ledger, não fez um Coringa melhor. Inventou um Coringa e fez o que quis com o personagem. Aquele não era o Coringa, assim como os outros também não eram. Ledger fez o verdadeiro. O cinismo de Nicholson não ajudou em nada só transformou o personagem em um idiota fantasiado.
Não entendo de cortes, montagens e de quanto tempo o filme deveria ter, mas sei que os quadrinhos devem sempre ser tratados com respeito e quando não se conhece algo é melhor não se atrever a tecer comentários. Uma boa pesquisa ajudaria antes de escrever críticas equivocadas.

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