2 de junho de 2013

Heróis e seus problemas existenciais


No dia 28 de maio um dos meus professores na minha graduação de jornalismo me fez uma pergunta pelo Facebook. Fernando Leite, foi meu professor na faculdade e anos depois tive o prazer e o privilégio de trabalhar com ele em um jornal. Foi meu editor chefe. Aprendi muito com este professor, que é uma figura ímpar. De um vocabulário incrível e detentor de um conhecimento absurdo sobre quase tudo!
Pois é, ele me fez uma pergunta sobre super-heróis, a pergunta, o melhor dizendo, a afirmação foi a seguinte: “Você já reparou que todo super-herói sofre com problema existencial? Pelo menos, os mais famosos. Talvez seja a fórmula encontrada pelos autores para lhes conferir um traço de humanidade”.
Pois é, longe de ser um especialista no assunto (prefiro dizer que sou um estudioso do assunto) me atrevo a tentar explicar essa questão ao professor Fernando.
Todo herói sofre com um problema existencial. Acho que isso é um  requisito básico para ser um super-herói nos dias de hoje. O professor Fernando está certíssimo. E acertou de novo ao completar a frase. Dar problemas para os personagens foi a maneira encontrada pelos autores para lhes dar um traço de humanidade e, principalmente, para aproximá-los da realidade e dos leitores.
Nas décadas de 40 e 50, quando os primeiros super-heróis surgiram, todos eram imbatíveis e invencíveis. Não demorou para que todos se acostumassem e, logo, enjoassem da fórmula. Foi então quem na década de 60, Stan Lee e Jack Kirby resolveram inovar e criaram personagens com problemas de verdade, problemas de gente comum e poderes sobrenaturais. A idéia era que as as pessoas se identificassem com os novos personagens. Eles não seriam mais tão invencíveis, ou tão semi-deuses. Os heróis teriam contas para pagar, namoradas para proteger, empregos para manter e filhos para criar. Tudo isso ao mesmo tempo em que salvavam o mundo em alguma odisséia cósmica. Nascia então a Marvel Comics.
Nem preciso dizer que deu tudo certo e os personagens se tornaram um sucesso de público e de crítica. Lee e Kirby criaram nesses moldes, heróis como o Homem de Ferro (um industrial com problemas de alcoolismo), os mutantes do X-Men (uma analogia com o racismo), o Homem-Aranha (adolescente, estudante, órfão que morava com os tios), o Quarteto Fantástico (uma família de super-heróis que ainda tinha que levar os filhos para a escola) entre outros heróis que conhecemos bem como o Hulk, Capitão América, Pantera Negra etc.
A concorrente da Marvel, a DC Comics que tinha em seu staff personagens como Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e Lanterna Verde precisava fazer alguma coisa, pois começou a perder terreno para a Marvel. Alguns anos depois ela também reformulou os seus personagens e transformou a vida de todos eles. Todos também ganharam problemas comuns, uma vida além da capa e espada e, com isso, se tornaram criaturas normais com inúmeros problemas existenciais, além dos poderes sobrenaturais.
Batman, por exemplo, que eu considero tão maluco quanto os vilões que ele combate, é um dos que mais possuem questões mal resolvidas. Superman, Mulher-Maravilha e até o Aquaman, ganharam mais problemas do que nós, simples mortais, podemos imaginar. Hoje, diferente de outras épocas nos quadrinhos, eles precisam conviver com mais coisas além dos vilões para combater.
O traço de humanidade desses personagens está exatamente aí. Naqueles problemas que todo mundo tem. É ali que o leitor se identifica e por isso admira tanto o "seu" super-herói. Salvar o mundo agora é a parte mais fácil do trabalho de um super-herói. Se manter “super” e ainda assim pagar as contas, fazer filhos - e cuidar deles -, trabalhar, casar, manter uma identidade secreta... tudo isso agora também está no gibi.

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