No dia 28 de maio um dos meus professores na minha graduação
de jornalismo me fez uma pergunta pelo Facebook. Fernando Leite, foi meu
professor na faculdade e anos depois tive o prazer e o privilégio de trabalhar com
ele em um jornal. Foi meu editor chefe. Aprendi muito com este professor, que é uma
figura ímpar. De um vocabulário incrível e detentor de um conhecimento absurdo
sobre quase tudo!
Pois é, ele me fez uma pergunta sobre super-heróis, a pergunta, o melhor dizendo, a afirmação foi a seguinte: “Você já
reparou que todo super-herói sofre com problema existencial? Pelo menos, os
mais famosos. Talvez seja a fórmula encontrada pelos autores para lhes conferir
um traço de humanidade”.
Pois é, longe de ser um especialista no assunto (prefiro
dizer que sou um estudioso do assunto) me atrevo a tentar explicar essa questão ao professor Fernando.
Todo herói sofre com um problema existencial. Acho que isso é um requisito básico para ser um super-herói nos dias de hoje. O professor
Fernando está certíssimo. E acertou de novo ao completar a frase. Dar
problemas para os personagens foi a maneira encontrada pelos autores para lhes
dar um traço de humanidade e, principalmente, para aproximá-los da realidade e dos leitores.
Nas décadas de 40 e 50, quando os primeiros super-heróis
surgiram, todos eram imbatíveis e invencíveis. Não demorou para que todos se
acostumassem e, logo, enjoassem da fórmula. Foi então quem na década de 60, Stan Lee e
Jack Kirby resolveram inovar e criaram personagens com problemas de verdade, problemas de gente comum
e poderes sobrenaturais. A idéia era que as as pessoas se identificassem com os
novos personagens. Eles não seriam mais tão invencíveis, ou tão semi-deuses. Os heróis teriam contas para pagar, namoradas para proteger, empregos para manter e
filhos para criar. Tudo isso ao mesmo tempo em que salvavam o mundo em alguma odisséia
cósmica. Nascia então a Marvel Comics.
Nem preciso dizer que deu tudo certo e os personagens se tornaram um sucesso de público e de crítica. Lee e Kirby criaram nesses
moldes, heróis como o Homem de Ferro (um industrial com problemas de
alcoolismo), os mutantes do X-Men (uma analogia com o racismo), o Homem-Aranha
(adolescente, estudante, órfão que morava com os tios), o Quarteto Fantástico
(uma família de super-heróis que ainda tinha que levar os filhos para a escola)
entre outros heróis que conhecemos bem como o Hulk, Capitão América, Pantera Negra etc.
A concorrente da Marvel, a DC Comics que tinha em seu staff
personagens como Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e Lanterna Verde
precisava fazer alguma coisa, pois começou a perder terreno para a Marvel. Alguns anos depois ela também reformulou os seus personagens e
transformou a vida de todos eles. Todos também ganharam problemas comuns, uma
vida além da capa e espada e, com isso, se tornaram criaturas normais com inúmeros
problemas existenciais, além dos poderes sobrenaturais.
Batman, por exemplo, que eu considero tão maluco quanto os vilões
que ele combate, é um dos que mais possuem questões mal resolvidas.
Superman, Mulher-Maravilha e até o Aquaman, ganharam mais problemas do que nós, simples mortais, podemos imaginar. Hoje, diferente de outras épocas nos
quadrinhos, eles precisam conviver com mais coisas além dos vilões para
combater.
O traço de humanidade desses personagens está exatamente aí. Naqueles problemas que todo mundo tem. É ali que o leitor se identifica e por isso admira tanto o "seu" super-herói. Salvar o mundo agora é a parte mais fácil do trabalho de um
super-herói. Se manter “super” e ainda assim pagar as contas, fazer filhos - e cuidar
deles -, trabalhar, casar, manter uma identidade secreta... tudo isso agora
também está no gibi.
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