4 de maio de 2011

Minha melhor (e pior) lembrança de Thor

Eu ainda não vi o filme do Thor. Mas vou ver. O personagem nunca foi um dos meus prediletos, mas foi um dos que mais lia na infância. Suas histórias, principalmente as ambientadas em Asgard, eram as minhas prediletas. Com Thor eu aprendi a ler corretamente e a empregar alguns tempos verbais que eu não costumava utilizar no meu dia-a-dia. Os deuses nórdicos utilizavam uma maneira super-hiper-mega formal para conversar. Sempre no pretérito mais que perfeito.
Em setembro de 1984 eu era um estudante mais ou menos nerd que tentava voltar inteiro pra casa todos os dias. Juntava o troco da padaria para comprar os quadrinhos do mês. Era um por mês, de verdade! Então a escolha tinha que ser acertada. A revista Grandes Heróis Marvel era trimestral, a mais fácil de colecionar. Eu estava esperando o número 5. A edição número 4 trouxe uma história muito boa com o Homem-Aranha, Kazar, e os X-Men contra Sauron. A edição seguinte tinha que ser foda! E foi!
No caminho pra escola abri o saco de moedas e comprei a edição que trazia o Deus do Trovão na capa. Era uma edição especial. Depois que a mesma Grandes Heróis Marvel organizou uma edição horrivel com as origens de alguns heróis (a número 3), aquela parecia ser a redenção para Thor. A capa era muito legal, com um tipo de desenho que na época não era comum. Parecido com o que hoje fazem Alex Ross e Felipe Massafera, por exemplo. Fiquei maravilhado com a arte.
No caminho para a escola não consegui ler a revista, pois ia para o colégio em uma Caloi Cross cinza. Com medo de que destruíssem minha preciosa revista no recreio, já estava certo de que não iria levá-la para o pátio. Então teria que esperar até chegar em casa. Certo? Errado! Cai na asneira de abrir a revista na minha perna e ler durante a aula de matemática. Foi um dos maiores erros da minha vida.
Apesar de parecer um nerd eu não tinha todas as qualidades e atributos de um CDF. Não me sentava nas primeiras filas, e sim, mais ou menos no meio. Livre dos valentões do fundo da sala e longe dos CDFs do início. Eu era péssimo em matemática (e ainda sou) e isso é inaceitável para um nerd. Minha localização na sala de aula, no entanto, não me ajudou nesse dia. Estava tão imerso na leitura que não percebi quando a professora chegou ao meu lado e tirou a revista do meu colo.
Aquela senhora, cuja imagem jamais saiu da minha mente - tive vários pesadelos -, foi de uma crueldade ímpar. Hoje, com certeza o fato seria motivo de matéria no telejornal local. Ela não só tirou a revista novinha das minhas mãos, como disse sem dó e sem piedade, e com uma crueldade na voz digna da Encantor, que iria jogar minha revista fora ou então doar para um orfanato.
Eu fiz a única coisa que eu poderia e sabia fazer: chorei. Chorei muito. Chorava copiosamente. Primeiro porque eu não tinha terminado a leitura; segundo porque minhas economias de um mês estavam na mesa da professora com cara de javali; e terceiro porque eu estava com muita raiva e vergonha.
Não satisfeita, quanto mais eu chorava, mais a desgraçada me espezinhava. A infeliz não acreditava que eu poderia gostar tanto de uma revista em quadrinhos a ponto de fazer um escândalo. Nem eu parava a choradeira e nem ela conseguia dar aula. Ganhei no cansaço. Ela deu um grito e disse que me daria a revista no final da aula, e que era pra eu parar de chorar. Tentei engolir o soluço. Mas assim que o sinal tocou, corri para a frente da mesa da desgraçada e estendi a mão pedindo minha revista. Ela parecia com mais raiva que eu. Me deu a revista e falou uma besteira qualquer.
Somente depois que peguei a revista e olhei para trás, me dei conta de que a turma inteira estava olhando pra mim espantada. Bateu uma certa vergonha, mas estufei o peito levantei a voz e disse: "viram como fingi bem!". Niguém acreditou claro. Não demorou para ouvir alguém dizer no fundo da sala: "cara! você chorou desse jeito por causa de um gibi?".
É, meu caro colega, do qual não me lembro mais o nome e nem o rosto... chorei, mas depois que cheguei em casa e li a reviata, vibrei com a origem de Thor e com seu encontro com Conan, o Bárbaro, - as duas histórias da revista -, olhei pra cima e repeti bem baixinho: "valeu a pena ter chorado hoje de manhã. as crianças do orfanato jamais entenderiam essa história".

1 comentários :

Milton Kennedy disse...

Divertida a história.
Tbm sou um gde fã dos quadrinhos!
Qdo ainda adolescente tive minha coleção inteira furtada, lamento isso até hj!
Felizmente ganhei recentemente de um amigo (tbm quadrinista) uma caixa repleta de gibis!

Gde abç