No último sábado foi o Dia do Orgulho Nerd, ou o Dia da
Toalha, como queiram. Eu sei, você nem sabia que isso existia não é? Pois bem, existe e a data é uma "homenagem" aos nerds. Na década de 80,
seria impossível imaginar uma data que rendesse homenagens a uma turma
deslocada, quase autista, que era discriminada de forma absurda, somente por
ser diferente ou por pensar diferente da maioria.
Hoje, somente graças ao advento da internet, das redes
sociais e dos aparelhos digitais (que os nerds dominam desde sempre),
essa “classe” passou a ser mais valorizada. Alguém descobriu que ser nerd rendia
algum dinheiro e de repente os nerds entraram na moda. Um outro absurdo, porque
nerd e moda simplesmente não combinam. Então, o termo “nerd” virou lugar
comum e passou a ser banalizado.
Mas vamos tentar explicar em um parágrafo porque o dia 25 de
maio é o Dia do Orgulho Nerd e depois entrar no assunto em questão. A data foi escolhida para comemorar a première do
primeiro filme da série Star Wars, o Episódio IV: Uma Nova Esperança, em 25 de maio de 1977, mas divide o mesmo dia com duas outras datas semelhantes: o Dia da Toalha, para os fãs da
"trilogia" O Guia do Mochileiro das Galáxias,
em homenagem ao seu escritor Douglas Adams,
e o Glorioso 25 de Maio para
os fãs da série Discworld, em homenagem ao seu escritor Terry Pratchett.
A explicação retirada do Wikipédia resume bem para os não-nerds o que o dia de hoje representa e porque ele existe, embora seja meio ignorado.
Eu sou, fui e sempre serei um nerd, mas isso não é motivo de
orgulho é só uma constatação. Gosto disso e pronto. Não estou na moda, não vou
mudar com o tempo e não uso óculos de grau com armação grossa porque está na
moda, uso porque preciso. Ser nerd, pelo menos na minha época, nunca foi motivo
de orgulho, muito pelo contrário, era motivo para apanhar todos os dias na
escola. Tinha poucos amigos, não era popular e só matava aulas para jogar fliperama. Hoje, ser nerd é gostar de Star Wars (porque está na moda); ouvir Los
Hermanos; gostar de Blur e Radiohead; assistir todas as séries - principalmente
The Big Bang Theory -, usar camisa do Superman e do Lanterna Verde; ir ao
cinema e discutir nos comentários do Omelete se o ator X não seria melhor que o
ator Y. Ser nerd é bem mais que isso, e se você não é, não adianta usar camisa do Batman achando que ele é amigo do Homem-Aranha e os dois fazem parte do Quarteto Fantástico.
Historicamente, ser nerd é ser um excluído. Hoje isso mudou, mas mesmo com a popularidade recém adquirida, os nerds ainda são um grupo menor, diferente da maioria. Não por acaso, um dos primeiros filmes sobre o tema, "A Vingança dos Nerds" reuniu no mesmo grupo os nerds, gordos, gays, negros, feios e raquíticos. Todos minorias que sofriam bullying constantemente e se juntaram no fim para derrotar os valentões da escola.
O problema é que hoje é comum você ver e ouvir algumas figuras - e em Campos têm um
monte delas - que se apropriou da alcunha somente porque está na moda ser nerd. É legal
falar do filme do Homem-Aranha, vestir uma camisa do Lanterna Verde, aparecer na televisão com um pôster do Batman
ao fundo, e falar do novo filme do Superman como se tivesse nascido em Krypton.
Pois é, na minha época - eu nasci em 1973 - ser nerd foi minha única
opção, e aconteceu de forma natural. O cara que é nerd - e ele não escolhe ser nerd - só é chamado de nerd porque é diferente da maioria e se destaca "negativamente". Ele não gosta de atividades físicas,
geralmente é arredio, cresceu solitário, e é avesso a reuniões sociais. Enquanto
seus amigos jogavam bola, soltavam pipa e eram os mais populares na escola, o
nerd não ligava pro corte de cabelo; de tanto ler e ver TV ganhou óculos; lia e estudava, estudava e estudava; aprendia a tocar um instrumento musical; e todo
o seu tempo livre era dedicado a atividades solitárias, ou seja: livros,
revistas em quadrinhos, TV, vídeo game e alguns brinquedos específicos (bonecos
de ação, jogos de tabuleiro etc). Já que seria impossível superar seus rivais
na beleza, popularidade e na forma física, o jeito era ser o melhor em outras
frentes. O resto da história todo mundo conhece.
Hoje o que existe são: falsos nerds; nerds que cresceram e ganharam
um upgrade; nerds que tentam desesperadamente entrarem em um círculo que não os
pertence; e os nerds mais xiitas, que não
permitem que o seu universo particular - que não é mais particular - seja desbravado pelos não-nerds. Houve um tempo em que eu sonhava com filmes como
Homem de Ferro, Lanterna Verde e Vingadores. Hoje esses filmes saem aos borbotões.
A sensação que os nerds têm é de que todo esse universo os pertence, de que só
eles o conhecem, e de certo modo isso até é verdade. Antes ninguém prestava atenção,
agora virou moda. Pro cara que sempre foi fiel ao seu mundo, que descobriu o Wolverine em 1983 e ouve R.E.M desde 1985, é como se todo o mercado de cultura pop, hoje, o estivesse traindo.
Hoje, é claro que já existem algumas diferenças, mas na verdade não mudou nada no nascedouro dos nerds. Essas
criaturas nascem da mesma forma, e geralmente, nos mesmos ambientes. A
diferença é que antes viviam sofrendo bullying no colégio e agora ditam estilo
de vida, moda e têm um mercado poderoso voltado para eles. E não são mais tão solitários porque agora descobrem outros da mesma "espécie", com mais facilidade, através da internet. O mercado digital - computadores,
internet, celulares, smartphones, vídeo games e etc - sempre foi dominado pelos
nerds. Hoje essas ferramentas são populares, de uso comum, mas mesmo assim, os
nerds ainda dominam essas ferramentas, na maioria das vezes, de forma quase
profissional, por isso, ainda estão um passo à frente.
Portanto meu amigo, para ser nerd são necessários alguns
requisitos básicos, coisas que se você não faz, não tem, ou não é, não adianta
forçar a natureza. Por exemplo: todo nerd lê. E lê muito, de forma compulsiva. Programa bom é
ir a um livraria. E não adianta você dizer que lê Paulo Coelho, O Código Da Vinci, ou O Segredo,
porque isso não é literatura. Ler tem que ser hábito, feito com prazer, e não uma obrigação, uma convenção social.
Ser social? Ninguém precisa sair de casa para se socializar. Se na década
de 70 e 80 isso era impossível, hoje com internet, redes sociais e jogos online, a socialização pode ser feita no conforto da sua poltrona. Vale ter vida social
dentro da segurança de seu quarto/sala. Todo nerd é mais ou menos assim.
Não basta gostar de De Volta para o Futuro, tem que saber o nome de toda a família McFly. Não basta gostar de Star Wars, tem que ter a máscara do Darth Vader na cabeceira da cama. Não basta gostar do Capitão América, tem que saber do que é feito
seu escudo e qual o nome da sua última namorada. Enfim, não dá pra fingir que é
nerd só para entrar na moda. Nem dá pra fingir que gosta disso ou daquilo, um nerd de verdade sempre vai te desmascarar.
É claro, que alguns estereótipos ficaram pelo caminho. O tempo mudou, a Terra girou e alguns conceitos evoluíram, mas não perderam a sua essência. Ninguém
está proibido de praticar esportes, ir a barzinhos (odeio barzinhos), boates (odeio boates), torcer para algum time de futebol ou até mesmo ser um atleta. Nerd não é uma ciência exata (ou é?), embora algumas
coisas não combinem ou funcionem juntas. É tudo uma questão de estar no lugar
certo e com as pessoas certas. Se você se sente bem (ou suporta) estar ao lado de
gente que conversa durante horas sobre novela, academia, carros ou futebol,
tudo bem, isso não vai te matar, nem te fazer mais ou menos nerd. Mas se você aguenta tudo isso, e ficaria horas discutindo se o Aquaman é mais forte que o Namor (é claro que é o Aquaman), então esse aqui é o seu lugar, seu nerd abominável!