16 de maio de 2014

Cássio Peixoto na AIC dentro da Bienal de Campos

No próximo sábado (dia 17) às 17h (amanhã), eu vou estar no estande da Associação de Imprensa Campista (AIC), dentro da Bienal de Campos falando sobre meus projetos autorais. Vou participar do “Bate Papo, Café e Cachaça” e levar pra lá os meus projetos de quadrinhos e as tirinhas do Homem-Quadrado, esse sucesso absurdo de público e crítica e amado por 10 entre 10 brasileiros! Por lá eu vou explicar quase tudo sobre a nova edição de “Estado Permanente de Tristeza Profunda”; as tiras do Homem-Quadrado; adaptações da literatura campista para os quadrinhos; e todos os outros projetos que estão por vir ainda em 2014. Além dos quadrinhos para O Diário.
Sobre “Estado Permanente de Tristeza Profunda”: já expliquei isso mil vezes, mas não custa relembrar. A revista de 36 páginas lançada em Belo Horizonte em 2013, no Festival Internacional de Quadrinhos, é uma prévia da revista que será lançada em setembro. A nova edição terá mais páginas (90 + ou -), nova colorização, textos e cenas que foram suprimidas da edição anterior e a arte final de Glauco Torres. Tudo isso porque em 2013 eu sofri alguns acidentes de percurso e faltou grana e tempo para colocar a revista como eu gostaria.
Como eu ainda tenho muitos exemplares dessa primeira edição em casa, vou vender por R$ 2,50 no stand da Associação de Imprensa Campista durante toda a Bienal de Campos e toda a Semana da Imprensa também. Depois disso percorrerei as praças e jardins vendendo os exemplares para comprar caneta nanquim 0,7 e lápis HB. A venda dessas revistas vai ajudar a financiar a confecção dessa nova edição que eu estou desenhando e colorindo novamente, quadro por quadro. Além disso ela terá capa cartonada, o triplo de páginas e acabamento padrão FIFA (já disse isso antes não é?).

            Pois então é isso criaturas abomináveis, espero todo mundo por lá no stand da AIC neste sábado (amanhã dia 17), às 17h para um "bate papo com café e cachaça". Conto com a presença de você e com a dos seus amigos. Compartilhem essa bagaça e levem dois reais e cinquenta centavos no bolso para garantir uma edição. Lembre-se, no futuro ela pode valer o dobro já que vai virar edição de colecionador!

24 de novembro de 2013

Sobre o Festival Internacional de Quadrinhos em BH


Conversei com algumas pessoas, falei com minha família e amigos mais próximos, mas desde que voltei do Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) em Belo Horizonte, na semana passada, ainda não tinha feito nenhum relato, por escrito, no meu blog, onde costumo "resenhar". Embora, não tenha feito nada novo desde que comecei a me dedicar a revista que levei para o FIQ.
Fiz umas duas postagens no Facebook, mas vale aqui um relato “oficial”. Quem acompanha o blog deve ter percebido que mudou tudo de novo. Depois de várias experiências e de tentar dar um rumo para a minha carreira, minha intenção agora é a de me dedicar mais aos desenhos, publicações e roteiros, e falar um pouco menos sobre o trabalho dos outros. Continuarei colaborando com o Universo HQ e, possivelmente, ainda farei uma ou outra resenha aqui no mucufo, mas a tendência é que eu utilize esse espaço para divulgar cada vez mais a minha produção.
O FIQ 2013 me ensinou algumas coisas e o choque de realidade me fez bem. Estou muito distante do mercado de quadrinhos e o que chega aqui em Campos não me dá a exata noção do que está acontecendo lá fora. A FIQ me mostrou com todas as cores e letras como o mercado está funcionando e voltei com a certeza de que preciso me aprimorar mais, melhorar muito mais e desenhar, escrever, desenhar, escrever, desenhar, escrever, desenhar, escrever, todos os dias como se não houvesse amanhã.
Enfim, a revista “Estado Permanente de Tristeza Profunda” não pode ser considerada um trabalho pronto, finalizado. A revista que foi lançada no FIQ e que circulou por lá, funciona como um pré-projeto, ou uma prévia de uma revista maior que está por vir. Em uma das minhas postagens recentes, expliquei que fui obrigado a suprimir algumas cenas, cortar algumas coisas do roteiro por causa do espaço, e tentei costurar tudo para que essa história, que já está impressa, não perdesse o sentido. O primeiro passo foi dado e eu acho que emsmo com todas as dificuldades está bem legal e o resultado foi melhor que o esperado.
O projeto inicial era que a revista tivesse mais páginas, mais desenhos e um formato um pouco diferente. Infelizmente minha grana ficou curta e eu não consegui escrever e desenhar tudo o que eu queria. Por conta de sérias restrições orçamentárias, a revista que teria perto de 100 páginas, caiu para 36. No meio do processo, desloquei o punho direito, duas vezes em dois acidentes de bicicleta - para quem não mora na minha cidade, em Campos andamos de bicicleta o tempo todo -, isso sem falar em um problema com os meus pais que os mais chegados sabem qual é. Não bastassem todos os problemas que caíram na minha cabeça exatamente quando a revista estava sendo trabalhada, o meu trampo como editor de um jornal diário, não me deixou dedicar à revista o tempo que eu gostaria. Eu passo, mais ou menos, de oito a dez horas do meu dia no jornal, então, fica complicado chegar em casa e ainda desenhar e escrever por mais dez horas ou mais. Não estou justificando o resultado, mas explicando o futuro, e o porquê de ainda não ter “finalizado” esse trabalho.
A história que está impressa conta a saga de um jovem confuso e aparentemente desequilibrado, ou simplesmente um adolescente impulsivo. Ele resolve embarcar em uma jornada em busca de respostas para perguntas que ele mesmo formulou, e como um rebelde sem causa, se aventura por uma mata e depois por uma estrada até encontrar suas respostas.
Ainda não recebi o feedback de editores, desenhistas e amigos para quem entreguei a revista, e o público que a adquiriu no FIQ avaliou bem o trabalho. Em breve, pretendo torrar o restante das revistas que ainda tenho, aqui em Campos. Pretendo vender por 2 reais e o dinheiro arrecadado com a venda desse exemplar vai ajudar a financiar a versão “capa dura” com extras e cenas deletadas de “Estado Permanente de Tristeza Profunda”.
O plano segue, dessa vez sem alterações de última hora. Além de terminar a nova versão para a revista pretendo finalizar uma tirinha sobre um personagem que está em desenvolvimento e em algumas semanas deve entrar no ar nesse mesmo espaço. Futuramente pode se transformar em uma outra publicação. Além disso, sigo em outros projetos em parceria com os desenhistas Glauco Torres Grayn, Beralto e a Mara Oliveira (que ainda não sabe que eu vou convidá-la para um trampo).
Por enquanto é isso, acho que o maior festival de quadrinhos do Brasil me ajudou a entender melhor o mercado e a aprimorar a minha técnica e o meu texto. Estamos pelo menos um nível ou dois, abaixo do que está sendo produzido hoje, mas acho que dá pra chegar lá com trabalho e muita dedicação.
Agradeço também aos profissionais que sempre me receberam com muito carinho, me incentivaram e me ajudaram com palavras de incentivo, críticas pontuais e construtivas, seja por email, Facebook ou pessoalmente. Da mesma forma, centenas de amigos também partilharam da minha alegria e me incentivaram. Sou grato a todos eles.
Agora que ela já foi publicada, posso dizer que boa parte da revista contém trechos da música “Descivilização” do Biquíni Cavadão. Os integrantes da banda foram extremamente generosos e exigiram apenas os créditos dentro da revista. Também por isso, como não consegui explorar a música como gostaria, essa edição merece uma republicação, o que acontecerá no próximo ano como já expliquei.
Sigo então planejando o relançamento de “Estado Permanente de Tristeza Profunda”, nas tirinhas desse novo personagem que deve surgir em algumas semanas, e em pelo menos mais um título no qual já estou trabalhando o estudo dos personagens. Sem falar nas propostas com os amigos desenhistas e ilustradores. E é isso aí, vida que segue. Em breve vou postar aqui e em todas as redes o local onde vou lançar a revista aqui em Campos, já que quase ninguém teve acesso desde que voltei de Belo Horizonte.
Mais uma vez obrigado a todo mundo que sempre me apoiou e aguardem mais novidades para 2014.

30 de junho de 2013

Um recado para o Grupo Cine Araújo

Não sei se esse recado chegará até os caras do Cine Araújo, não sei se isso fará diferença, mas vou mandar assim mesmo. Campos é uma cidade que sempre teve problemas com cinemas. Na verdade, nas décadas de 70 e 80 não era assim, não haviam problemas, mas soluções. Campos tinha oito ou nove salas de cinema. E pasmem! Havia público para todas elas.
Hoje estamos reduzidos ao Cine Araújo e suas modernas salas localizadas no Boulevard Shopping. Mesmo com todo esse "avanço" nós, cinéfilos,não conseguimos assistir aos filmes que são exibidos por lá. Deveria ser fácil, mas não é. O Cine Araújo não facilita a nossa vida.
Estão sendo exibidos alguns filmes, que todos estavam esperando faz bastante tempo e o Cine Araújo faz questão de exibí-los em horários ruins e dublados. Começo a acreditar que alguém proibiu que Campos receba filmes legendados. Guerra Mundial Z, Superman e Todo Mundo em Pânico 5 estão sendo exibidos por lá e nenhum deles tem cópias legendadas. O que faz esses caras pensarem que todos querem ver os filmes dublados? Em que lugar esse pessoal do Cine Araújo Campos vive? Eles acreditam realmente que todos querem ver filmes dublados? Tem alguém que quer mesmo ver Superman dublado? Alguém vai dizer que Superman é um filme para crianças (e não é) e que as crianças também precisam ver e blá blá blá. Ótimo, então ponham cópias dubladas para as crianças em horários de matiné. Mas, Guerra Mundial Z dublado? Será que alguma enquete, pesquisa foi realizada para saber a preferência da população? Ou para saber o que querem os que realmente gostam de cinema?
Nós sabemos que metade das pessoas que vão ao cinema estão cagando e andando para o filme, uma parte vai para namorar, a outra vai passear no Shopping e enquanto a mulher faz compras ele "espera" no cinema. Uma parte diz que fica "tonta" e não consegue ler e ver o filme ao mesmo tempo, essa parte ou é míope ou é retardada. Estamos em 2013, qualquer criança de 13 anos tem noções avançadas de inglês, ninguém precisa ter a vida facilitada pela dublagem do Cine Araújo.
É óbvio que todos têm o direito de ver um filme dublado, assim como eu e milhares de pessoas em Campos, têm o direito de ver o filme legendado. Pois então, por que não fazer como o Cine Goytacá, Cine Dom Marcelo e o Cine Capitólio faziam desde a década de 70? É simples: coloquem sessões dubladas e sessões legendadas em horários alternados, tipo "cada hora um" entenderam?
O Cine Magic, não faz muito tempo, fazia exatamente desse jeito. Primeiro uma sessão dublada, depois outra legendada, ou então colocava uma em cada sala e você podia escolher. Com apenas um dia de exibição a direção do cinema já sabia que tipo de público ela deveria prestigiar aumentando um dos horários. Não é difícil, e se tiverem um pouco de paciência e respeito pelos usuários poderão fazer a cosia certa.
Pois bem, sem concorrência o Cine Araújo faz o que bem entender e faz o que quer. Não vou ficar aqui criando chifre em cabeça de cavalo e nem vou convocar uma passeata de protesto por conta disso, mas pelamordeDues! Quero filmes legendados no Cine Araújo! Entenderam ou querem que eu faça um cartaz?

2 de junho de 2013

Heróis e seus problemas existenciais


No dia 28 de maio um dos meus professores na minha graduação de jornalismo me fez uma pergunta pelo Facebook. Fernando Leite, foi meu professor na faculdade e anos depois tive o prazer e o privilégio de trabalhar com ele em um jornal. Foi meu editor chefe. Aprendi muito com este professor, que é uma figura ímpar. De um vocabulário incrível e detentor de um conhecimento absurdo sobre quase tudo!
Pois é, ele me fez uma pergunta sobre super-heróis, a pergunta, o melhor dizendo, a afirmação foi a seguinte: “Você já reparou que todo super-herói sofre com problema existencial? Pelo menos, os mais famosos. Talvez seja a fórmula encontrada pelos autores para lhes conferir um traço de humanidade”.
Pois é, longe de ser um especialista no assunto (prefiro dizer que sou um estudioso do assunto) me atrevo a tentar explicar essa questão ao professor Fernando.
Todo herói sofre com um problema existencial. Acho que isso é um  requisito básico para ser um super-herói nos dias de hoje. O professor Fernando está certíssimo. E acertou de novo ao completar a frase. Dar problemas para os personagens foi a maneira encontrada pelos autores para lhes dar um traço de humanidade e, principalmente, para aproximá-los da realidade e dos leitores.
Nas décadas de 40 e 50, quando os primeiros super-heróis surgiram, todos eram imbatíveis e invencíveis. Não demorou para que todos se acostumassem e, logo, enjoassem da fórmula. Foi então quem na década de 60, Stan Lee e Jack Kirby resolveram inovar e criaram personagens com problemas de verdade, problemas de gente comum e poderes sobrenaturais. A idéia era que as as pessoas se identificassem com os novos personagens. Eles não seriam mais tão invencíveis, ou tão semi-deuses. Os heróis teriam contas para pagar, namoradas para proteger, empregos para manter e filhos para criar. Tudo isso ao mesmo tempo em que salvavam o mundo em alguma odisséia cósmica. Nascia então a Marvel Comics.
Nem preciso dizer que deu tudo certo e os personagens se tornaram um sucesso de público e de crítica. Lee e Kirby criaram nesses moldes, heróis como o Homem de Ferro (um industrial com problemas de alcoolismo), os mutantes do X-Men (uma analogia com o racismo), o Homem-Aranha (adolescente, estudante, órfão que morava com os tios), o Quarteto Fantástico (uma família de super-heróis que ainda tinha que levar os filhos para a escola) entre outros heróis que conhecemos bem como o Hulk, Capitão América, Pantera Negra etc.
A concorrente da Marvel, a DC Comics que tinha em seu staff personagens como Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e Lanterna Verde precisava fazer alguma coisa, pois começou a perder terreno para a Marvel. Alguns anos depois ela também reformulou os seus personagens e transformou a vida de todos eles. Todos também ganharam problemas comuns, uma vida além da capa e espada e, com isso, se tornaram criaturas normais com inúmeros problemas existenciais, além dos poderes sobrenaturais.
Batman, por exemplo, que eu considero tão maluco quanto os vilões que ele combate, é um dos que mais possuem questões mal resolvidas. Superman, Mulher-Maravilha e até o Aquaman, ganharam mais problemas do que nós, simples mortais, podemos imaginar. Hoje, diferente de outras épocas nos quadrinhos, eles precisam conviver com mais coisas além dos vilões para combater.
O traço de humanidade desses personagens está exatamente aí. Naqueles problemas que todo mundo tem. É ali que o leitor se identifica e por isso admira tanto o "seu" super-herói. Salvar o mundo agora é a parte mais fácil do trabalho de um super-herói. Se manter “super” e ainda assim pagar as contas, fazer filhos - e cuidar deles -, trabalhar, casar, manter uma identidade secreta... tudo isso agora também está no gibi.

26 de maio de 2013

Nerds, essas criaturas abomináveis

No último sábado foi o Dia do Orgulho Nerd, ou o Dia da Toalha, como queiram. Eu sei, você nem sabia que isso existia não é? Pois bem, existe e a data é uma "homenagem" aos nerds. Na década de 80, seria impossível imaginar uma data que rendesse homenagens a uma turma deslocada, quase autista, que era discriminada de forma absurda, somente por ser diferente ou por pensar diferente da maioria.
Hoje, somente graças ao advento da internet, das redes sociais e dos aparelhos digitais (que os nerds dominam desde sempre), essa “classe” passou a ser mais valorizada. Alguém descobriu que ser nerd rendia algum dinheiro e de repente os nerds entraram na moda. Um outro absurdo, porque nerd e moda simplesmente não combinam. Então, o termo “nerd” virou lugar comum e passou a ser banalizado.
Mas vamos tentar explicar em um parágrafo porque o dia 25 de maio é o Dia do Orgulho Nerd e depois entrar no assunto em questão. A data foi escolhida para comemorar a première do primeiro filme da série Star Wars, o Episódio IV: Uma Nova Esperança, em 25 de maio de 1977, mas divide o mesmo dia com duas outras datas semelhantes: o Dia da Toalha, para os fãs da "trilogia" O Guia do Mochileiro das Galáxias, em homenagem ao seu escritor Douglas Adams, e o Glorioso 25 de Maio para os fãs da série Discworld, em homenagem ao seu escritor Terry Pratchett.
A explicação retirada do Wikipédia resume bem para os não-nerds o que o dia de hoje representa e porque ele existe, embora seja meio ignorado.
Eu sou, fui e sempre serei um nerd, mas isso não é motivo de orgulho é só uma constatação. Gosto disso e pronto. Não estou na moda, não vou mudar com o tempo e não uso óculos de grau com armação grossa porque está na moda, uso porque preciso. Ser nerd, pelo menos na minha época, nunca foi motivo de orgulho, muito pelo contrário, era motivo para apanhar todos os dias na escola. Tinha poucos amigos, não era popular e só matava aulas para jogar fliperama. Hoje, ser nerd é gostar de Star Wars (porque está na moda); ouvir Los Hermanos; gostar de Blur e Radiohead; assistir todas as séries - principalmente The Big Bang Theory -, usar camisa do Superman e do Lanterna Verde; ir ao cinema e discutir nos comentários do Omelete se o ator X não seria melhor que o ator Y. Ser nerd é bem mais que isso, e se você não é, não adianta usar camisa do Batman achando que ele é amigo do Homem-Aranha e os dois fazem parte do Quarteto Fantástico.
Historicamente, ser nerd é ser um excluído. Hoje isso mudou, mas mesmo com a popularidade recém adquirida, os nerds ainda são um grupo menor, diferente da maioria. Não por acaso, um dos primeiros filmes sobre o tema, "A Vingança dos Nerds" reuniu no mesmo grupo os nerds, gordos, gays, negros, feios e raquíticos. Todos minorias que sofriam bullying constantemente e se juntaram no fim para derrotar os valentões da escola. 
O problema é que hoje é comum você ver e ouvir algumas figuras - e em Campos têm um monte delas - que se apropriou da alcunha somente porque está na moda ser nerd. É legal falar do filme do Homem-Aranha, vestir uma camisa do Lanterna Verde, aparecer na televisão com um pôster do Batman ao fundo, e falar do novo filme do Superman como se tivesse nascido em Krypton.
Pois é, na minha época - eu nasci em 1973 - ser nerd foi minha única opção, e aconteceu de forma natural. O cara que é nerd - e ele não escolhe ser nerd - só é chamado de nerd porque é diferente da maioria e se destaca "negativamente". Ele não gosta de atividades físicas, geralmente é arredio, cresceu solitário, e é avesso a reuniões sociais. Enquanto seus amigos jogavam bola, soltavam pipa e eram os mais populares na escola, o nerd não ligava pro corte de cabelo; de tanto ler e ver TV ganhou óculos; lia e estudava, estudava e estudava; aprendia a tocar um instrumento musical; e todo o seu tempo livre era dedicado a atividades solitárias, ou seja: livros, revistas em quadrinhos, TV, vídeo game e alguns brinquedos específicos (bonecos de ação, jogos de tabuleiro etc). Já que seria impossível superar seus rivais na beleza, popularidade e na forma física, o jeito era ser o melhor em outras frentes. O resto da história todo mundo conhece.
Hoje o que existe são: falsos nerds; nerds que cresceram e ganharam um upgrade; nerds que tentam desesperadamente entrarem em um círculo que não os pertence; e os nerds mais xiitas,  que não permitem que o seu universo particular - que não é mais particular - seja desbravado pelos não-nerds. Houve um tempo em que eu sonhava com filmes como Homem de Ferro, Lanterna Verde e Vingadores. Hoje esses filmes saem aos borbotões. A sensação que os nerds têm é de que todo esse universo os pertence, de que só eles o conhecem, e de certo modo isso até é verdade. Antes ninguém prestava atenção, agora virou moda. Pro cara que sempre foi fiel ao seu mundo, que descobriu o Wolverine em 1983 e ouve R.E.M desde 1985, é como se todo o mercado de cultura pop, hoje, o estivesse traindo.
Hoje, é claro que já existem algumas diferenças, mas na verdade não mudou nada no nascedouro dos nerds. Essas criaturas nascem da mesma forma, e geralmente, nos mesmos ambientes. A diferença é que antes viviam sofrendo bullying no colégio e agora ditam estilo de vida, moda e têm um mercado poderoso voltado para eles. E não são mais tão solitários porque agora descobrem outros da mesma "espécie", com mais facilidade, através da internet. O mercado digital - computadores, internet, celulares, smartphones, vídeo games e etc - sempre foi dominado pelos nerds. Hoje essas ferramentas são populares, de uso comum, mas mesmo assim, os nerds ainda dominam essas ferramentas, na maioria das vezes, de forma quase profissional, por isso, ainda estão um passo à frente.
Portanto meu amigo, para ser nerd são necessários alguns requisitos básicos, coisas que se você não faz, não tem, ou não é, não adianta forçar a natureza. Por exemplo: todo nerd lê. E lê muito, de forma compulsiva. Programa bom é ir a um livraria. E não adianta você dizer que lê Paulo Coelho, O Código Da Vinci, ou O Segredo, porque isso não é literatura. Ler tem que ser hábito, feito com prazer, e não uma obrigação, uma convenção social.
Ser social? Ninguém precisa sair de casa para se socializar. Se na década de 70 e 80 isso era impossível, hoje com internet, redes sociais e jogos online, a socialização pode ser feita no conforto da sua poltrona. Vale ter vida social dentro da segurança de seu quarto/sala. Todo nerd é mais ou menos assim.
Não basta gostar de De Volta para o Futuro, tem que saber o nome de toda a família McFly. Não basta gostar de Star Wars, tem que ter a máscara do Darth Vader na cabeceira da cama. Não basta gostar do Capitão América, tem que saber do que é feito seu escudo e qual o nome da sua última namorada. Enfim, não dá pra fingir que é nerd só para entrar na moda. Nem dá pra fingir que gosta disso ou daquilo, um nerd de verdade sempre vai te desmascarar.
É claro, que alguns estereótipos ficaram pelo caminho. O tempo mudou, a Terra girou e alguns conceitos evoluíram, mas não perderam a sua essência. Ninguém está proibido de praticar esportes, ir a barzinhos (odeio barzinhos), boates (odeio boates), torcer para algum time de futebol ou até mesmo ser um atleta. Nerd não é uma ciência exata (ou é?), embora algumas coisas não combinem ou funcionem juntas. É tudo uma questão de estar no lugar certo e com as pessoas certas. Se você se sente bem (ou suporta) estar ao lado de gente que conversa durante horas sobre novela, academia, carros ou futebol, tudo bem, isso não vai te matar, nem te fazer mais ou menos nerd. Mas se você aguenta tudo isso, e ficaria horas discutindo se o Aquaman é mais forte que o Namor (é claro que é o Aquaman), então esse aqui é o seu lugar, seu nerd abominável!